domingo, 9 de junho de 2013

Síndrome de Cotard

               

                                   


"Estou morta. Não sou nada. Nunca serei nada. Estou completamente morta. Sou uma morta-viva; meu corpo é apenas poeira. Logo minhas pernas não me carregarão mais... Meus pulmões são de um cadáver. Podem me radiografar que não encontrarão nada. Dentro do meu corpo há apenas pó. Sou um cadáver que anda para que ninguém me enterre... Não há mais dinheiro para me enterrar. É preciso me jogar na vala comum. Sou um cadáver que anda, uma morta-viva, uma morta que ressuscitou três vezes. Sou imortal... Sou um cadáver grávido. Ando para alimentar o bebê, que também está morto. Engravidaram um cadáver... e eu estou muito, muito gorda."

Características

E, realmente, a síndrome de Cotard consiste em um estado de melancolia e ansiedade com paroxismos de uma agitação maníaca, durante os quais a mulher gemia e se contorcia pelo chão, alternados com períodos de total imobilidade e mutismo.

Em síntese, o delírio de negação tende a surgir em pacientes com histórico de esquizofrenia e transtorno bipolar; seu conteúdo explicitamente niilista, ou seja, vazio, estabelece relações com um profundo estágio de depressão e também com a Síndrome de Capgras (na qual o paciente tem certeza de que todos à sua volta são clones impostores).

Exatamente como a Síndrome de Capgras, a Síndrome de Cotard é o resultado da desconexão entre as áreas fusiformes (que nada mais são do que todos os orifícios do corpo humano, desde os olhos até o ânus) e as estruturas límbicas que as reconhecem (como o septo, o tálamo e o hipotálamo, que estão relacionados às emoções). Como consequência, o paciente perde a capacidade de compreensão e exercício da fala, passando a negar não apenas seus órgãos internos, mas também a sua própria imagem refletida no espelho - que é descrita como "apagada e esmaecida".

Comportamento

Por acreditar-se morto - e, muito frequentemente, imortal -, o paciente deixa de se alimentar, higienizar e relacionar com as outras pessoas. Neste caso, porém, a imortalidade deixa de ser um privilégio para se transformar em um eterno tormento; longe de ser a glória, é o horror. E, se alguém tentar lhe dizer que não está morto, ele provavelmente responderá que o outro também está cadavérico, mas ainda não sabe disso.

Enquanto que em estágios avançados o doente nega a existência do mundo e a sua própria, em casos mais leves pode manifestar-se um sentimento de angústia e desespero durante um quadro passageiro de transtorno depressivo unipolar. Mas, de uma maneira geral, a analgesia (completa ausência de dor física) e a automutilação são características muito presentes - e, embora raramente consiga consumar o ato devido ao seu total desequilíbrio, são inúmeras as tentativas de suicídio.

Casos Ocorridos


Alguns biógrafos dizem que Edgar Allan Poe, eminente poeta do terror norte-americano no século XIX, apresentava sintomas da Síndrome de Cotard em seus últimos meses de vida.

Um caso famoso foi de um motoqueiro que se acidentou e depois de ficar muito tempo no hospital, ele acabou sendo transferido para outro país. E quando ganhou alta, começou a pensar que estava no inferno e que tinha morrido. Ele teve que ser tratado, pois dentro de sua mente a vida tinha acabado e ele nada mais era que um morto.
Outro caso foi de um menino, que sofria dessa síndrome de maneira esporádica. As vezes ele agia como uma pessoa normal, mas em alguma épocas acreditava estar morto. Além disso, ele enxergava todas as coisas a sua volta como mortos, não conversava com as pessoas durante as crises e seu organismo ficava todo descontrolado. Até as tentativas de criar situações prazerosas eram ignoradas, pois ele se sentia excluído do mundo dos vivos.

Tratamento

O tratamento para a Síndrome de Cotard é feito à base de antidepressivos tricíclicos (que possuem este nome por causa da presença de três anéis de átomos em sua composição) e serotoninérgicos (à base de serotonina, substância química responsável pelo bem-estar) somados a sessões de Terapia Eletroconvulsiva (TEC, ou simplesmente choques elétricos).


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